Sem dúvida um personagem histórico e folclórico do Brasil e que muita gente não sabe, veio diretamente da Argentina.
Jorge foi patinador artístico quando jovem, e me prometeu enviar fotos desta época. (estou cobrando!)
Hoje ele faz aniversário e deixo aqui minha homenagem.
Abaixo uma entrevista que desenterrei das entranhas da internet, onde ele, Jorge Iglesias, conta um pouco da sua trajetória:
“Quando eu tinha 9 anos, meu pai trabalhava na empresa de correios da Argentina e um dia chegou em casa com uns cartões postais de propaganda e deu de presente para cada um dos seus quatro filhos. Um era dos Estados Unidos da América. Outro da Inglaterra. O outro do Japão e o meu era do Rio de Janeiro, Brasil. Quando o cartão chegou nas minhas mãos, eu falei para meu pai: “papai que lugar lindo!”, e ele me disse: “meu filho, se conforme vendo essas fotos, pois a gente é pobre e nunca vamos poder conhecer o Brasil…”.
ISABELITA: Meu início de carreira aqui no Brasil foi de degrau em degrau. Acredito que minha sorte foi que apareci, durante o carnaval de 1971, na Avenida Atlântica de patins. Nesta época estava com 22 aninhos e patinava como a diva norueguesa, amiga de Carmen Miranda, Sonja Henie. Quando eu comecei a patinar na avenida Atlântica o povo ficou enlouquecido!!! Então eu comecei a freqüentar a Banda de Ipanema e a saudosa Banda da Carmen Miranda – onde virei uma atração turística.
Hoje em dia para mim ser ‘drag queem’ é um trabalho tanto no Brasil como no mundo, tudo quando você tem arte tem valor. Você é reconhecido.
Por ironia da vida meus pais se separam e meu pai, eu e meus três irmãos fomos morar nada casa de uma tia, em Rosario, uma cidade da província de Santa Fé, interior da Argentina.
Assim que nos mudamos, meu pai procurou uma escola para nós.
Existia uma perto mais não tinha vagas disponíveis. Um pouco mais longe,
papai encontrou a escola para nós continuarmos estudando. A
escola se chamava ‘Estados Unidos do Brasil’
e como é tradição por aqui, todo 7 de setembro se comemorava o dia da Independência
do Brasil. Nas quartas e quintas séries
do colegial, nos ensinavam história, geografia e o hino do Brasil. Eu
fiquei apaixonado pelo Hino Nacional Brasileiro!
Além de meu pai trabalhar nos correios, ele tinha tipo uma banda. Ele se apresentava, cantava, se vestida de Charles Chaplin de patins. Então eu acho que herdei dele a patinação, que começou na minha vida aos 9 anos de idade.
Meu pai era um show!
Eu sempre fui muito esperto e
curioso. E ao ver meu pai com alguns instrumentos, eu ainda com
pouca idade, já tocava pandeiro, recu-recu, atabaque, etc. A Diretora do Centro de Estudos Brasileiro, vendo que eu tocava todos esses instrumentos, me convidou para ir ao Centro de Estudos Brasileiro para fazer o ‘Bumba Meu Boi. Do grupo eu era a criança, quando ela me fez o convite perguntei o que eu iria fazer, ela respondeu: “Você vai ficar dentro do boi!”. Aí eu reclamei: “Mas ninguém vai me ver!”… E ela respondeu: “O Boi é o papel mais importante!”… E por um bom tempo ensaiamos o ‘Bumba Meu Boi’ para nos apresentarmos nas embaixada do Brasil em Buenos Aires.
A apresentação foi um grande sucesso.
Quando voltei para minha cidade já era perto do dia 7 de
setembro. A escola religiosamente comemorava todos os anos
e eu já fazia parte do show! Em uma dessas apresentações, no meio do show, o adido cultural da embaixada do Brasil em
Buenos Aires me chama no palco e me da de presente um
relógio. Que emoção! Que alegria! Que felicidade! Pois eu não tinha relogio.
A Diretora do Centro de Estudos Brasileiros de Rosário
falou com o adido cultural e explicou a ele que eu
era pobre, de pais separados, três irmãos… e se
ele não poderia arranjar um emprego para mim. E imediatamente ele me deu um emprego no Consulado do Brasil na cidade de Rosário!
Eu quase morro de tanta felicidade! Era um sonho! Estar
com brasileiros quase 24 horas… Poder aprender mais português… Escutar música brasileira…
E assim
fui ao consulado. Bem arrumadinho. A secretaria do consulado
me recebeu e me orientou sobre minha rotina. Disse que, por um período, eu
teria que fazer cafezinho e servir aos convidados. E assim foi por uns meses… Fiquei fazendo cafezinho, cafezinho, cafezinho…
Nesse período o consulado não tinha Consul, só vice-Consul. Quando a Secretaria Geral do Consulado, Sra. Marta
Casablanca, recebeu um comunicado de que ia chegar um novo
Consul, ela imediatamente me tirou da cozinha e me colocou
ao seu lado e colocou uma senhora na cozinha. Quando o
Consul chegou um senhor de uma certa idade, perguntou a
Secretária “O que Jorgito, (meu nome é Jorge Omar Iglesias) faz
aqui?”. E ela imediatamente disse: “Jorgito é minha mão direita.
Ele faz tudo aqui no Consulado”.
Passaram os meses e um dia o Consul me chama em seu gabinete para saber porque que eu estava no consulado e porque eu
tinha esse amor pelo Brasil. Contei tudo para ele, e imediatamente ele disse: “Quando você
completar os 18 anos, eu vou te dar de presente uma viagem
ao Rio de Janeiro!”.
E assim foi, quando fiz 18 anos, eu ganhei a passagem de
15 dias para conhecer a ‘Cidade Maravilhosa’ e fazer um
intercâmbio com os alunos da Escola da República Argentina fica aqui em Vila Isabel.
Amei tudo, mais voltei para a Argentina, pois eu tinha uma obrigação: fazer o serviço militar onde tive diploma como um
excelente soldado. Como eu já estava com os 21 anos e já era maior de
idade, eu perguntei ao novo Consul se havia a possibilidades de me
contratar. Ele disse que “não”. Então, eu solicitei as minhas contas, uma carta de apresentação, e uma passagem para o Rio de
Janeiro!
E assim foi! Cheguei a Cidade Maravilhosa no dia 31 de
julho de 1970.
Antes de ser famosa eu era mais um ‘trabalhador brasileiro’.
Matava um leão por dia! Eu sou auxiliar administrativo.
E como foi o início de carreira? Que outros personagens já fez?
I: Além da Isabelita dos Patins, eu tenho um Charles
Chaplin, um Papai Noel e uma Mamãe Noel, todos de patins. Nos anos 1970/1980 eu via que as crianças adoravam
meu personagem. Então, comecei a fazer aniversários de crianças. Nesta época,
cheguei a ter mais de 15 bichinhos: o Mickey, a Minie, a Chapeuzinho Vermelho, um palhaço, um gato, o Snooppy, a Pantera Cor de
Rosa e outros… Nesse período as festinhas em geral eram
feitas em casa, não tinha Mc Donald’s, etc… etc… etc…
Como nasceu a personagem ‘Isabelita’?
A Isabelita nasceu num carnaval de 1971 na Avenida
Atlântica. Eu nunca tinha me vestido de caricato (drag
queen) então a minha fantasia era bem mambembi… a
maquiagem era ‘minancora’ e duas bolachas vermelhas nas buchechas, mais eu patinava muito bem, quando uma
jornalista me viu veio correndo e perguntou o meu nome. Eu
disse que meu nome era Jorge. Mais ela imediatamente me diz:
”como jorge? Com essas vestimentas? De onde você é?”. Eu respondi:
”da Argentina”… ha, ha, ha… “Então a partir de hoje
você vai se chamar ‘Isabelita dos Patins’, disse a repórter!
Porquê??? Porque
em 1971 a ‘Isabelita Peron’ era a Primeira Dama da Argentina!
De onde vem o gosto pela patinação?
I: Eu patino desde os 9 aninhos. Na Argentina fazia parte de
um grupo de patinação artística e ganhei muitos campeonatos
sozinho ou com uma companheira.
Você considera sua personagem imortalizada pelos brasileiros?
I: Realmente! Como diz a música: “Daqui não saio! Daqui ninguém me tira!”. Nunca pensei de que uma pessoa que viesse de outro
país para realizar seu sonho e se tornaria tão querida,
tão amada e tão respeitada. O que eu tenho e o que eu sou,
eu devo a cada um de vocês. Eu amo o Brasil! Eu amo tanto que quando me naturalizei brasileiro, me dei presente um mapa do Brasil em
ouro, e é claro que ele está no cofre da Caixa Econômica Federal.
Sim, Isabelita patina!
“Sei que amanhã, quando morrer, o povo vai dizer que eu tinha um bom coração… O que a gente faz por nós, morre conosco.
Mas o que a gente faz pelos outros, ficará para a eternidade!” – Isabelita dos Patins.