24 de jul. de 2014

Parabéns pra Isabelita dos Patins!





Já falei da Isabelita aqui, lembram?
Sem dúvida um personagem histórico e folclórico do Brasil e que muita gente não sabe, veio diretamente da Argentina.
Jorge foi patinador artístico quando jovem, e me prometeu enviar fotos desta época. (estou cobrando!)
Hoje ele faz aniversário e deixo aqui minha homenagem.

Abaixo uma entrevista que desenterrei das entranhas da internet, onde ele, Jorge Iglesias, conta um pouco da sua trajetória:




“Quando eu tinha 9 anos, meu pai trabalhava na empresa de correios da Argentina e um 
dia chegou em casa com uns cartões postais de propaganda e 
deu de presente para cada um dos seus quatro filhos. Um  era dos Estados Unidos da América. Outro da Inglaterra. O outro do Japão e o meu era do
 Rio de Janeiro, Brasil. Quando o cartão chegou nas minhas mãos, eu 
falei para meu  pai: “papai que lugar lindo!”, e ele  me  disse: “meu filho, se conforme vendo essas fotos,  pois a gente é
 pobre e nunca vamos poder conhecer o Brasil…”.



ISABELITA: Meu  início de carreira aqui no Brasil foi de degrau em 
degrau. Acredito que minha sorte foi que apareci, durante o carnaval de
1971, na Avenida Atlântica de  patins. Nesta época estava com 22 aninhos e patinava
como a diva norueguesa, amiga de Carmen Miranda,
 Sonja Henie. Quando eu comecei a patinar na avenida Atlântica o povo 
ficou enlouquecido!!! Então eu comecei a freqüentar a Banda de
Ipanema e a saudosa Banda da Carmen Miranda – onde virei
uma  atração turística.


Hoje em dia para mim ser ‘drag queem’ é um trabalho 
tanto no Brasil como no mundo, tudo 
quando você tem arte tem valor. Você é reconhecido.
Por ironia da vida meus pais se separam e meu  pai, eu e meus três irmãos fomos morar nada casa de uma tia, em Rosario, uma cidade da província de Santa Fé, interior da Argentina. 
Assim que nos mudamos, meu  pai procurou uma escola para nós.
 Existia uma perto mais não tinha vagas disponíveis. Um pouco mais longe, 
papai encontrou a escola para nós continuarmos estudando. A 
escola se chamava ‘Estados Unidos do Brasil’
 e como é tradição por aqui, todo 7 de setembro se comemorava o dia da Independência
do Brasil. Nas  quartas e quintas séries 
do colegial, nos ensinavam história, geografia e o hino do Brasil. Eu
 fiquei apaixonado pelo Hino Nacional Brasileiro!


Além de meu pai trabalhar nos correios, ele tinha tipo uma
 banda. Ele se apresentava, cantava, se vestida de Charles 
Chaplin de patins. Então eu acho que herdei dele a patinação, que começou na minha vida aos 9 anos de idade.
Meu pai era um show!
Eu sempre fui muito esperto e
 curioso. E ao ver meu pai com alguns instrumentos, eu ainda com
 pouca idade, já tocava pandeiro, recu-recu, atabaque, etc. A Diretora do Centro de Estudos Brasileiro, vendo que eu tocava todos esses instrumentos, me convidou para ir ao Centro de Estudos Brasileiro para fazer o ‘Bumba  Meu Boi. Do grupo eu era a criança, quando ela me fez o convite perguntei o que eu iria fazer, ela respondeu: “Você vai ficar dentro do boi!”. Aí eu reclamei: “Mas  ninguém vai me ver!”… E  ela respondeu: “O Boi é o papel mais importante!”… E por um bom tempo ensaiamos o ‘Bumba Meu Boi’ para nos apresentarmos nas embaixada do Brasil em Buenos Aires.
A apresentação foi um grande sucesso.
 Quando voltei para minha cidade já era perto do dia 7 de
setembro. A escola religiosamente comemorava todos os anos
e eu já fazia parte do show! Em uma dessas apresentações, no meio do  show, o adido cultural da embaixada do Brasil em
Buenos Aires me chama no palco e me  da de presente um
relógio. Que  emoção! Que  alegria! Que  felicidade! Pois eu não tinha relogio.
A Diretora do Centro de Estudos Brasileiros de Rosário
falou  com o adido cultural e explicou a ele que eu 
era pobre, de pais separados, três irmãos… e se 
ele não poderia arranjar um emprego para mim. E  imediatamente ele me deu um emprego no Consulado do Brasil na cidade de Rosário!
Eu  quase  morro de  tanta  felicidade! Era um sonho! Estar
 com brasileiros quase  24 horas…  Poder aprender  mais português… Escutar  música brasileira…
E assim 
fui ao consulado. Bem arrumadinho. A secretaria do consulado 
me recebeu e me orientou sobre minha rotina. Disse que, por um período, eu 
teria que fazer cafezinho e servir aos convidados. E assim foi por uns meses… Fiquei fazendo cafezinho, cafezinho, cafezinho…
Nesse  período o consulado não tinha Consul, só vice-Consul. Quando  a  Secretaria  Geral  do  Consulado, Sra. Marta 
Casablanca, recebeu  um comunicado de que ia chegar um novo 
Consul, ela imediatamente me tirou da cozinha e me colocou 
ao seu lado e colocou uma senhora na cozinha. Quando o 
Consul chegou um senhor de uma certa idade, perguntou a 
Secretária “O que Jorgito, (meu nome é Jorge Omar Iglesias) faz
 aqui?”. E ela imediatamente disse: “Jorgito é  minha mão direita. 
Ele faz tudo aqui no Consulado”.
Passaram os meses e um dia o Consul me chama em seu gabinete para saber porque que eu estava no consulado e porque eu
 tinha esse amor pelo Brasil. Contei  tudo para ele, e imediatamente ele  disse: “Quando você
 completar os 18 anos, eu vou te dar de presente uma viagem
ao Rio de Janeiro!”.
E assim foi, quando fiz 18 anos, eu ganhei a passagem de
15 dias para conhecer a ‘Cidade Maravilhosa’ e fazer um 
intercâmbio com os alunos da Escola  da República Argentina fica aqui em Vila Isabel.
Amei tudo, mais voltei para a Argentina, pois eu tinha uma obrigação: fazer o serviço militar onde tive diploma como um 
excelente soldado. Como eu já estava  com os 21 anos e  já era maior de 
idade, eu perguntei ao novo Consul se havia a possibilidades de me 
contratar. Ele disse que “não”. Então, eu solicitei as minhas contas, uma carta de apresentação, e uma passagem para o Rio de
Janeiro!
 E assim foi!  Cheguei a Cidade Maravilhosa no dia 31 de
julho de 1970.
Antes de ser famosa eu era mais um ‘trabalhador brasileiro’.
 Matava um leão por dia! Eu sou auxiliar administrativo.


E como foi o início de carreira? Que outros personagens já fez?
I: Além da Isabelita dos Patins, eu tenho um Charles
Chaplin, um Papai Noel e uma Mamãe Noel, todos de patins. Nos anos 1970/1980 eu via que as crianças adoravam 
meu personagem. Então, comecei a fazer aniversários de crianças. Nesta época,
 cheguei a ter mais de 15 bichinhos: o Mickey, a Minie, a Chapeuzinho Vermelho, um palhaço, um gato, o Snooppy, a Pantera Cor de
Rosa e outros… Nesse período as festinhas em geral eram
 feitas em casa, não tinha Mc Donald’s, etc… etc… etc…
Como nasceu a personagem ‘Isabelita’?
A  Isabelita nasceu num carnaval de 1971 na Avenida
Atlântica. Eu nunca tinha me vestido de caricato (drag
queen) então a minha fantasia era bem mambembi… a
 maquiagem era ‘minancora’ e duas bolachas vermelhas nas buchechas, mais eu patinava muito bem, quando uma
 jornalista me viu veio correndo e perguntou o meu nome. Eu 
disse que meu nome era Jorge. Mais ela imediatamente me  diz:
”como  jorge?  Com essas vestimentas? De  onde  você é?”. Eu respondi:
”da  Argentina”…  ha, ha, ha… “Então a partir de hoje
você vai se chamar ‘Isabelita dos Patins’, disse a repórter!
Porquê??? Porque 
em 1971 a ‘Isabelita Peron’ era a Primeira Dama da  Argentina!
De onde vem o gosto pela patinação?
I: Eu patino desde os 9 aninhos. Na Argentina fazia parte de
 um grupo de patinação artística e ganhei muitos campeonatos
 sozinho ou com uma companheira.
Você considera sua personagem imortalizada pelos brasileiros?
I: Realmente! Como diz a música: “Daqui não saio!  Daqui ninguém me  tira!”. Nunca pensei de que uma pessoa que viesse de outro
país para realizar seu sonho e se tornaria tão querida, 
tão amada e tão respeitada. O que eu tenho e o que eu sou,
 eu devo a cada um de vocês. Eu  amo o Brasil! Eu amo tanto que quando me naturalizei brasileiro, me dei presente um mapa do Brasil em
 ouro, e é claro que ele está no cofre da Caixa Econômica Federal.

Sim, Isabelita patina!







“Sei que amanhã, quando morrer, o povo vai dizer que eu tinha um bom coração… O que a gente faz por nós, morre conosco. 
Mas o que a gente faz pelos outros, ficará para a eternidade!” – Isabelita dos Patins. 

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